domingo, 5 de julho de 2009

PERSONAGENS

Algumas pessoas que ajudaram a construir a história gloriosa do Club de Regatas Vasco da Gama:

DULCE ROSALINA - In Memorian
A Primeira Dama das Arquibancadas

Vascaína desde pequenina, assídua freqüentadora dos jogos de seu time desde a infância, em 1956 ela foi convidada por um grupo de torcedores para chefiar a Torcida Organizada do Vasco. Fato inédito na época, já que todos os chefes de torcida eram homens. Apesar de saber que dentro do clube não havia nenhum tipo de problema, por um momento ela se preocupou com a recepção que teria uma mulher nas arquibancadas. Mas o coração falou mais alto e ela resolveu enfrentar.

Mas foi muito bem recebida e tratada sempre com muito carinho e respeito, tanto pelos vascaínos como também pelos chefes das torcidas adversárias. Quando acabava um jogo, fosse no Maracanã, em São Januário, ou em qualquer estádio, saiam para jantar juntos, e faziam aquelas brincadeiras; "o seu clube não é de nada!" Apenas brincadeiras sadias, sem brigas nem ofensas, bem diferente do que se vê hoje.

Essa mulher pioneira teve uma grande participação na história do Vasco porque além de animar a torcida, inovando ao trazer bateria, papel picado e serpentina, ela exercia uma forte influência no sentido de fazer com que os torcedores na época se associassem ao clube. Para ela o mais importante era ajudar o crescimento do Vasco.

Em 1968 sofreu um grave acidente na Via Dutra numa viagem com a torcida para São Paulo e ficou dois anos afastada. Mas, assim que ficou boa, voltou para os estádios.

Em 1976, por motivos políticos, Dulce Rosalina deixou a TOV. Era ano eleitoral no Vasco da Gama, e a presidência do Clube estava sendo disputada entre Agathyrno Silva Gomes, que tentava a reeleição (era presidente desde 1969), e Medrado Dias, candidato da oposição. Dulce Rosalina resolveu aderir à candidatura de Medrado Dias e, para não bater de frente com seus companheiros da TOV, decidiu por bem abandoná-la, fundando uma nova torcida, a Renovascão Vasco Campeão.

Dona Dulce faleceu no dia 19 de janeiro de 2004 e a seu velório compareceram até integrantes de torcidas organizadas de outros clubes. No mesmo ano, em 17 de abril, a prefeitura do Rio de Janeiro reconheceu a importância de Dulce Rosalina para o desporto carioca ao mudar o nome da Rua Amazonas, próxima a São Januário, para "Rua Dulce Rosalina".

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PAI SANTANA
Patrimônio eterno do Vasco
Figura simpática, sorridente e presença constante em São Januário até hoje em dia. Há quem diga que o bom homem é um misto de bruxo, figura paternal, conselheiro daqueles que o procuram. Adjetivos não lhe faltam e histórias muito menos.
Há meio século no Vasco, Santana acompanhou o surgimento e as conquistas de várias gerações. Iniciou a sua carreira gloriosa no início dos anos 50, como lutador de boxe. Em 1954 fez a sua estréia como massagista do futebol profissional em um jogo contra o Bonsucesso. Excelente contador de "causos" essa figura incrível já aprontou inúmeras confusões em nome do seu amor à cruz de malta, chegando até a interferir em resultados de jogos com "seus poderes".
Entre os seus "causos" famosos tem o de 1974. O Vasco disputava um jogo que o levaria às finais do Brasileiro contra o Cruzeiro no Mineirão. "Uma senhora me disse que, se eu colocasse 3 ovos no campo, o Vasco ia mudar o placar. Coloquei os ovos, mas no meio da confusão, o Pérez, que era um jogador importante na nossa equipe, escorregou neles e me disse. Pai, tinha 3 ovos no campo, escorreguei neles e torci o meu pé. No lugar dele entrou o Jailson, que meteu um gol logo de cara. Com esse resultado ficamos muito bem e voltamos a pegar o Cruzeiro na final, só que no Maracanã". Santana já desceu de helicóptero lá dentro da Gávea para botar despacho no campo.
Pai Santana fez amizades maravilhosas no Vasco. Viveu toda a história do goleirão Barbosa. "Um belo dia ele se machucou, tinha quebrado a perna e estávamos sem goleiro reserva. O Vasco estava jogando no Maracanã, quando o Carlos Alberto, que jogava na categoria de baixo foi chamado nas arquibancadas para compor a equipe" Santana viu também o craque Roberto Dinamite batendo bola na escolinha do infantil até se tornar o maior ídolo vascaíno.
Chegou a dirigir o time do Vasco ganhando em 1974 um torneio em Curitiba, pois o técnico e seu auxiliar tiveram que retornar rapidamente ao Rio, antes mesmo do primeiro jogo. Santana assumiu e ganhou o título, mas falou após a conquista "nunca mais na minha vida quero ser treinador!". Santana afirma que o dia a dia no Vasco o faz chorar de alegria. Considera São Januário uma cidade, dado o número de modalidades que o Clube compete. "Eu nunca ouvi falar em um clube que ofereça apartamento para seus atletas, aqui tem!", arremata a doce e simples figura.
Santana conta que há alguns anos esteve muito mal e os jogadores saíam do Clube para ficar ficar com ele no hospital. "Numa época em que ninguém se preocupa com ninguém, uma organização por sua causa, apavora", disse Santana. O grande Pai Santana afirma que quando entra em campo saúda a torcida maravilhosa que sempre grita o seu nome. Para corresponder a esse amor passou a colocar a bandeira do Vasco no chão e beijá-la. E finaliza; "Não há dinheiro no mundo que pague este amor. Eu nem sou atleta e eles gritam o meu nome. Quando eu saio à pé, sou parado e dou autógrafo".
Pai Santana, misto de bruxo, pai, conselheiro e patrimônio eterno do Club de Regatas Vasco da Gama.
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JAGUARÉ - In Memorian
A Voz de São Januário
Em 1928, Walter Miceli se destacava no gol, em peladas no bairro de São Januário. Graças à sua atuação nos campos, o vascaíno então com 6 anos, ganhou o apelido de Jaguaré, goleiro cruzmaltino da época. Querendo conhecer o responsável por seu apelido, foi a São Januário acompanhado por seus familiares. Ao ouvir o professor Castro Filho falar pelo serviço de som do estádio, sentenciou: "Um dia eu vou falar aqui".
O menino Jaguaré adquiriu o costume de frequentar São Januário. Em 31, assistiu à maior goleada da história de seu time sobre o arquirival Flamengo, um humilhante 7 a 0. A equipe jogou com Jaguaré, Brilhante, Itália, Tinoco, Fausto, Mola, Baianinho, "Oitenta e quatro", Russinho, Mario Mattos e Santana. "Esse foi o momento mais gostoso da minha vida. O melhor time que já vi jogar. Se antes da partida eles dissessem que iam dar de cinco, eles davam."
Segundo o locutor, o goleiro Hélton, que atuou no clube entre 1999 e 2001, lembrava um pouco o goleiro campeão de 1931. "Ele só não faz uma coisa que Jaguaré - "O Dengoso" - fazia. Ele defendia, girava a bola no dedo e dava pro atacante tentar de novo e voltava a defender", lembra Jaguaré. Em 12 de fevereiro de 1947, aos 25 anos, Jaguaré fora levado pelo jornalista Julio Gammaro, do jornal "A Noite", para um teste de locutor. Segundo ele, antes mesmo do final do teste, o então vice-presidente Alvaro Ramos o convocou para assumir o posto de primeiro locutor do estádio de São Januário. Naquele ano o Vasco foi campeão.
Entra presidente, sai presidente e Jaguaré continuava firme como a "Voz de São Januário". Apaixonado declarado pelo Vasco, ele ensaiava a possível aposentadoria. "Eu queria parar um pouco, mas ninguém vai aceitar. O doutor Eurico não ia deixar, ele gosta de mim e eu sou muito grato a ele", agradecia.
Durante 54 anos, ele seguia o mesmo ritual: chegava ao estádio, dizia a escalação dos times, o juiz e os auxiliares da preliminar, informava as substituições e os autores dos gols e repetia o mesmo no jogo principal. Também participava de todas as solenidades para as quais era convidado. "Isso eu faço muito bem", contava Jaguaré. Com vista privilegiada da tribuna de imprensa, ele acompanhou a torcida vascaína durante cinco décadas e falava sobre essa evolução. "Apesar de o Vasco sempre ter sido um clube com torcida, ela cresceu muito". Jaguaré contava que há 30 anos, a vida social no Vasco era mais ativa, "tinha umas festas juninas lindas muito bem organizadas pelo seu Ismael".
Além de locutor, Jaguaré já trabalhou em cinema, com pequenas participações em "Obrigado Doutor", com Rodolfo Mayer e "Poeira de Estrelas" com Colé. Um fato curioso em sua vida é que certa vez ele foi convidado pelo administrador do Cemitério do Caju para ler as orações no enterro. Muito religioso, se correspondia com o Vaticano desde 1938. "Eu escrevo regularmente para o Papa e sempre obtenho resposta", contava orgulhoso. Desde que começou a trabalhar em São Januário, a partida que mais gostou aconteceu no dia 25 de maio de 1945. O adversário foi o time inglês Arsenal e a vitória veio através de um gol olímpico do ponta-direita Nestor. Apesar de tentar, Jaguaré nem sempre conseguiu ser imparcial. Em 10 de setembro de 1996, o Vasco ganhava por 1x0 do Grêmio, o tempo regulamentar já tinha acabado e o juiz Oscar Roberto de Godói não terminava a partida. Quando Paulo Nunes empatou o jogo, Jaguaré entrou em desespero, pegou o microfone e disse: "Agora você pode acabar seu muquirana". O estádio o aplaudiu.
"Eu ganhei tantos prêmios durante todo esse tempo, que já não consigo lembrar de todos". O próximo promete ser inesquecível. O vascaíno teve seu nome incluído no Guiness Book, por conta de seus 54 anos de locução em São Januário. No dia 17 de outubro de 2001, o Vasco perdeu um dos maiores personagens da sua centenária história: Walter Micelli, o Jaguaré, locutor oficial do clube.

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